sexta-feira, 26 de junho de 2009

A pequena da boca carnuda pintada de vermelho





Tenho cá minha suspeita de que tenha sido a boca carnuda pintada de vermelho que prendeu minha atenção nela.
Ou terá sido o sorriso fácil que aparece de minuto em minuto?
Pode ter sido também a rusga pregada na testa, como se tudo aquilo que não fosse dito por ela fosse um absurdo.
Cheia de si a pequena. Tão cheia assim, que qualquer dia desses, cria asas e foge por aí a vagar no mundo.
Quase me contentando que tenha sido isso que me cativou, lembrei-me dos olhos. Nunca vi par de oríficios tão nítidos como o dela. Fitavam, examinavam, sondavam, interrogavam, vigiavam e tudo mais que se espera de dois olhos.
Até então muito pouco para prender uma pessoa que já viu de quase tudo nessa vida como eu. Foi então que olhando mais a fundo, espantei-me.
Ao mesmo tempo em que olha, ideias são fabricadas aos montes. E se vê mais coisas pelos olhos dela. Se vê a inquietação, as memórias, os sorrisos guardados e prontos para serem mandados à boca. Se vê o reflexo dela. E se for mais fundo, se vê o seu reflexo por ela.
Quase perdi o fôlego. E olhe que já vi de quase tudo nessa vida para me encantar assim, mas devo confessar que a pequena me desarmou. Era incrível a transparência retratada ali.

Mas devo adverti-los de que não se deve olhar por muito tempo os olhos vivos. Podem perder-se por lá. Depois de toda a transparência, vem a bagunça. Tudo se mistura e de repente ela vira um enigma. Acho que é uma forma de se defender de estranhos que insistem em invadi-la sem pudor.
De repente tudo se nubla e ela fecha o tempo. A rusga da testa continua lá, mas dessa vez pra mostrar que não está nada satisfeita por tê-la lido sem permissão.
Enche o pulmão de ar, lhe roga uns impropérios e se vai. Pra onde, não me perguntem. Tenho cá pra mim que é uma andarilha.

E é aí que me convenço que de pequena nada tem. É grande, espaçosa, inquieta, bonita, e boca suja.
Até hoje não creio nas injúrias que ouvi daquela boca carnuda pintada de vermelho. E tenho dito!






[Texto inspirado nela, a pequena da foto que, a cada texto dela, me faz viajar e sentir que A vida é beijo doce em boca amarga. É uma afinidade que eu particularmente, não ouso tentar explicar. =D]

segunda-feira, 22 de junho de 2009

Oferta-se








Oferta-se um endereço, uma garafa de vinho e prosopopéias ambulantes, dissimuladas e despretendidas.
Oferta-se um calor, ventilador, coca-cola e batata-frita.

E oferto também silêncio, barulho, risos e um pouco de filosofia em bandeja.
Oferto um reflexo de mim...

terça-feira, 16 de junho de 2009

De mim, faço poeta!

E no afagar das minhas mãos arteiras, doce é som do ronronar que preenche as paredes.

Aprendi que pra driblar minhas incertezas, minhas divagações, meus anseios descontrolados, meus medos perceptíveis e gritantes, posso usar minhas mãos e a candura que eu nem sabia que existia em mim.

E é assim, afagando os meus dias que tenho amansado os gigantes, que de vez em quando, me aparecem enquanto pisco os olhos.


Foi talvez por isso que, hoje, eu me sinta/faço poeta.






[Pc quebrado, idas a lan house, pessoas barulhentas ao fundo. Esses dias serão turbulentos pra postar =/]

segunda-feira, 8 de junho de 2009

Tempo, tempo...

Descomplique!

Não é necessário que tudo seja mirabolantemente complexo, complicado.
O que tem demais se for singular?
Ser simples é tão anormal assim?
O tempo que temos aqui na Terra é sempre muito curto para que o percamos com outras coisas além de nós.

quinta-feira, 4 de junho de 2009

Amélia minha. Minha Amélia.





Prendada, renda, laço, fita; bordada.
E o cheiro de rosas dos cachos dos seus cabelos.
Sorriso belo. Córnea de chocolate e avelã.
Doce!

Mãos hábeis; olhos mais hábeis ainda.
Tesoura, lã, linha, ponto, agulha.
E o cheiro do café com pão matinal.
Receita, bolo, forno, fôrma e forma.
Avental colorido.
Uma flor de plástico, meio de mesa.
Cama pronta; cores em forma de roupas no varal.

O relógio e o seu "tic-tac" impera na cozinha.
Delicadeza em seus gestos frenéticos.
Arroz, feijão, salada, galinha.
Prato cheio, barriga vazia.
E me espera no portão com a candura estampada.
E as juras de paixão guarda para meia-noite.

És dona de mim.
És mãe, filha, mulher!
Ai, Amélia. Minha Amélia!
Qua falta me faz seu sorrir pontual.
Não sinto mais o cheiro das rosas. Por onde andas?
Que falta você me faz...

Mas faço de mim culpado sem pena.
Matei a Amélia, aos pouquinhos, todos os dias.
E ela não aguentou. Sua alma inquieta não suportou.
Voou.
Pra longe. Se embrenhando pelo mundo.
Cansou brincar de casinha.
A sede de experimentar os ventos nos cabelos foi maior.
Cansou de ser só mais uma "mulherzinha".
Ai, Amélia, minha...

terça-feira, 2 de junho de 2009

Medida de mim...

Nada me sobra, nada me é privado.
Tenho a exata medida de todas as coisas, um conjunto vazio, uma mestre pupila de Mim, navegação louca sem destino velejando numa breve eternidade — uma cordilheira de razões.

Sou portanto o pico de mim mesmo.

segunda-feira, 1 de junho de 2009

Carne




Passeia tua mão sobre mim sem medo
Deixe o pudor na porta da frente, meu bem
Eu garanto a você que não vai precisar dele
Me faça puta e dama
Acaricie ou contraia meu corpo, tanto faz;
Só quero ter certeza que sua respiração vai se desritmar.


Não, não. Não se preocupe se está certo
Não há maneira certa ou errada
Deixe a sua carne gritar!
Quebre essa imagem de santo do espelho
Dê lugar a sua luxúria!
Não há nenhum mal se permitir ao pecado uma vez ou outra.


Seja frenético, selvagem, insano;
experiente e iniciante;
Convicto e vacilante.
Seja um animal indomável possuindo meu corpo, minha alma.
Carregue a lascívia em tua língua
E com ela molhe os sertões do meu corpo
Recolha as gotas de suor.

Vem, anda, encosta a tua pele na minha!
Há de ter coisa mais inebriante que esse teu cheiro de sexo, prazer e perfume barato?
Me sussurre canções conhecidas, e desconhecidas também
Fale baixinho, palavras baixas e altas
Grite quando sentir-se entrando em mim
Sussurre de novo o quanto é bom me sentir por inteira
Diga que adora o fogo dessa minha paixão avassaladora
Tenha coragem de me apalpar com força
Tenha medo quando eu te engolir com os olhos!


Se doe e me tome
Aos goles, por favor
Gosto de viver aos borbotões.
Diga que precisa ir embora pra que eu implore que fique.
Diga que fica, pra que eu possa te expulsar.
Ignore minha contradição
Me encurrale com força na parede
E use-me como sua.
Hoje não importa se não sou eu que estou no comando.

Perder o controle de vez em quando se faz necessário.
Principalmente se for nas tuas mãos meu bem!
Mas só não me ofereça o pouco, o suficiente
Não suportaria ter de me contentar...










Pra ler ouvindo "Viva La Vida", Coldplay. (Passei a manhã cantando alto e dançando freneticamente, repetindo um milhão de vezes.Rá!)