sexta-feira, 31 de julho de 2009

A ladra e colecionadora de sorrisos...


Já se passaram alguns meses desde que a vi. Foi durante um passeio meu ao parque. Estava fotografando as cenas que mais me chamavam a atenção naquele dia. Gosto de colecioná-las. E foi em uma dessas fotos, que ela me chamou a atenção.

Menina, pernas de pinça, ar peralta. Olhinhos tortos. Não ficava parada nem por um só minuto; não conseguia. Ora pulava, ora corria, ora dava cambalhotas na grama. Desceu pelo escorregador, voou no balanço e se empinou na gangorra. E não se cansava.
Chamava a atenção com suas traquinagens. Tinha uma energia que parecia interminável.
Foi então que percebi quem realmente era. Dizia coisas engraçadas e contava histórias com finais inesperados: a princesa desistiu do trono e casou com o bobo da corte; o guerreiro mata o dragão com um golpe de espada, mas morre de medo de uma barata...Desatinos! Finais desatinados e desparafusados. Mas fazer o que? As histórias são dela.
Inventava brincadeiras, joguinhos. Não parava, não cansava. Sempre em moviMENTO, MOvimento, MOviMEntO, moVIMento...

Decidi fotografar a peralta. Foi aí que descobri quem realmente era: uma ladra! Uma ladra de sorrisos!
Agora estava claro pra mim o por quê de todo aquele show. Era uma distração. Uma forma de arrancar sorrisos dos seus espectadores. Mas pra que? Pra que roubar?
Curiosa e querendo uma explicação, fui ao encontro dela. Chamei pedindo que me contasse uma história; puro pretexto pra ela se aproximar. Quando estava, perto, puxei-a pelo braço e lhe indaguei. Perguntei porque roubava os risos.
Ela olhou para um lado, depois para o outro; pediu que a soltasse e me chamou no canto. Foi então que ela me explicou tudo.
Ela tinha um medo terrível de que um dia ela parasse de ver graça, cor nas coisas da vida; tinha medo de desaprender a sorrir. Então decidiu que roubaria todos os sorrisos que pudesse e os colecionaria. Assim, quando acontecesse de não esboçar mais nenhum riso, pegaria algum da coleção.

Olhei bem para ela. A ingenuidade dela estampada nos olhos...
Não segurei e rir do desejo da menina. A travessa agilmente me roubou e saiu correndo.
Não fui atrás. Sei que estará em boas mãos.

quinta-feira, 30 de julho de 2009

Engasgo...

Nos últimos dias, sinto que tem um nó na minha garganta que me faz ficar assim, muda.
Serei mais ousada: há um engasgo nos meus milhões de neurônios.
Tenho certeza de que é isso...


sexta-feira, 24 de julho de 2009

Hoje, sexta-feira



Toma um gole caprichado e abandona o copo sobre a mesa. Whisky sempre lhe ajuda a acalmar os ânimos. Precisava escrever alguma coisa, qualquer coisa; tinha um prazo a cumprir. Olhou novamente para a caneta, depois para o papel em branco; mais uma vez para a caneta, para o papel, na tentativa de que lhe brotasse repentinamente as palavras, que por sinal, já deveriam estar arrumadas ali.
No rádio, um disco tocava Janis Joplin que, com toda sua melancolia e numa voz deslumbrante, lamentava o fato de ser tão só mesmo cercada por milhões. Também era só naquele apartamento enorme onde sozinho mora; mas não arriscava cantar sobre sua solidão. Preferira ser escritor, contador de histórias ou seja lá o termo que esteja agora na moda. Criava seus personagens de acordo com seus anseios e com a ideia do que poderia ter sido se esse não fosse seu ofício. Vestia-se com o personagem e durante um romance, uma poesia ou um conto, era dele a forma, o desejo, a vida, os amores. Foi marinheiro, ministro, jardineiro, político, lutador, bandido...

Voltando a olhar a folha de papel, ainda em branco, indignou-se por se mostrar hoje, em plena sexta-feira, impotente, diante de uma mesinha simplória de escritório, uma miserável caneta com tinta ao meio e bocal mordido e o papel já amassado de tantas tentativas em iniciar um parágrafo que fosse. Caía a noite e já, já começaria sua maratona de boemias junto com seus companheiros de copos, botequins e amores repentinos. "Anda, vem cá logo de uma vez, D. Inspiração. Adianta, folgada, que já são 18:30". Mas sabe que não vai ser atendido. Sabe que a Dona aí solicitada gosta de fazer manhas e charminhos. É exibida: aparece na hora que bem entender e lhe der na telha; às vezes em situações um tanto quanto estranhas. Mas é melhor evitar entrar em riquezas de detalhes. Sejamos discretos.

Decidiu falar sobre a loucura. Até pensou em usar a definição de um amigo seu, também escritor, para ter mais credibilidade e soar poético, já que o tema pertence à seção de "temas delicados". "A loucura 'é o vácuo entre a criação e a obra criada'". Porém, ao rabiscá-la no papel, notou estático tal afirmação. Muitos irão discordar, sabe disso. Mesmo que não tenham opinião alguma, irão discordar. Porque nunca nada é coerente bastante para alguém; por mais que um aprove, há sempre aqueles que estarão prontos para se obstinarem. Discordam porque querem parecer mais sabidos e só por isso. Aposta uma rodada no bar do Chico. Há sempre a necessidade, o desejo de contrariar gratuitamente. Discordam porque seria chato se concordassem com tudo. Tem que dizer que tem motivo? Não precisa, pois nem os próprios sabem o por quê. Discordar deve estar na moda, ah se deve estar!

E interrompeu o pensamento com o soar da campainha. Eram seus fiéis escudeiros de farras e noites perdidas que vieram em seu resgate; vieram lhe tirar desse engasgo diante da folha de papel. Pegou a carteira o casaco e se pôs a sair, olhando uma última vez os rabiscos. Ah, chega! Iria é beber, rir, cantarolar, esquecer, lembrar, que tudo isso parecia-lhe bem melhor; e quem sabe, tropeçar em alguma situação viva que merecesse se imortalizar com uma caneta mordida e palavras ajeitadas numa folha em branco. Mas não quer pensar nisso; quer agora uma dose dupla do melhor whisky, um samba e, por que não, mais um amor de bar? Afinal, hoje é sexta-feira.

terça-feira, 21 de julho de 2009

O Menino Passarinho: Souvenir para Barros

Foto "furtada" do acervo dele, rs.

Existem escritos que deveriam ser enterrados para que só futuramente fossem lidos. Não entendam como egoísmo ou mero capricho de quem os escreveu. Apenas pensem na seguinte comparação: algumas frutas só podem ser consumidas após maduras, não é mesmo? Quando estão verdes, correm o risco de serem rejeitadas sem ao menos mostrarem seu verdadeiro sabor. A mesma coisa acontecem com as palavras. Vez ou outra, não estão prontas para logo serem lidas. É preciso que amadureçam; que seus leitores amadureçam. Mas vamos a ele: ao Menino Passarinho.

A idade me foge à memória nesse exato instante, mas arrisco-me a lhe dar os anos exatos de um garoto-homem. Isso mesmo, garoto-homem. Apesar da idade lhe fazer homem, ainda tem a alma de menino, com um ar despreocupado. Não sei se é mesmo assim tão tranquilo. O que sei é que ele contagia quem está a sua volta; é como se tudo tivesse uma solução, ainda que pareça incoerente.
É tímido e não precisa nenhuma análise psicológica para notar. Os poucos diálogos que dele saem, denunciam essa timidez. Ou seria cautela? É pode ser também; agora pensando por esse ângulo...

Tem olhos bastante curiosos e observadores: olha tudo atentamente procurando ver além do além. Acho que é pra bolar suas teses (também tem teses sobre uma porção de coisas) ou quem sabe pra compor suas canções.
Sim, ele canta. Canta mais do que fala. Canta e toca mais do que fala. Acho que é assim que espanta seus males; por isso o chamo de Menino Passarinho.
Mas é um "pássaro" diferente: não sabe assobiar e nem voa alto. Por ele seria um papacapim frustrado. Para mim, esse ainda não é o pássaro dele. Não sabe assobiar, mas aproveita que sabe soprar e toca gaita. Não voa alto, mas tem ousadia suficiente para se arriscar em voos rasteiros. Mudou de ideia quando lhe disse isso; com humor, chegou à conclusão de que acabara de tornar-se uma galinha. Não seguramos o riso.
Quer saber? Ele não é galinha, nem papacapim coisíssima nennhuma! É só me dar um bocadinho de tempo e descubro que pássaro o danado é. Ah! se descubro!

Tem uma curiosidade inquieta. Se não existe essa definição, passa agora a existir. Tudo para ele vira conhecimento, fórmulas, cálculos, deduções, conclusões...Muda constantemente, a qualquer hora. Basta descobrir que o que ele achava certo antes, agora não tem sentido algum e pronto: mudou! Ser mutável deve ser uma constância da natureza dele. Tenho cá com meus botões que é um nômade, evitando fixar em si mesmo para não terminar como alguém previsível demais. Não sei e nem sei se ele sabe.
Outra coisa que me chama a atenção no Menino Passarinho é a sua descrição. Não tem movimentos eufóricos ou bruscos; não grita, nem gosta de expôr sua vida como se essa fosse um tipo de boletim diário sobre o tempo. Tenho certeza que, por essa qualidade, é fiel aos segredos das confissões que lhe são depositadas com crédito. Parece-me um ideal confidente.
Não sei se consigo falar do sorriso. Vi poucos; mas do pouco que vi, posso apostar que se assemelha ao de uma criança: ri porque achou graça, não por pura conveniência ou agrado. Diria que... Rá! já sei que pássaro ele é! É um CANÁRIO DA TERRA! Isso! é um autêntico canário da terra! Como não percebi antes?! Céus, não é que descobri mesmo que pássaro o danado é?!

O conheci cantando. Cantando e tocando. Numa tarde de domingo, se me recordo bem. Não o conheço de "longos carnavais", mas senti vontade de escrever sobre o menino que se parece com um passarinho.
Sabe o que falei no início, sobre o escritos que precisam ser enterrados para serem lidos posteriormente para que suas frutas, digo, palavras possam amadurecer? Pois bem, esse Souvenir para o Menino Passarinho é um desses escritos. Enterrarei e quando eu sentir que está maduro, o mostrarei. Ou não!
Vai saber se eu mesma sei...

segunda-feira, 20 de julho de 2009

Menina das teses de liquidificador I

Não tinha nada de excepcional. Apenas passa por sua cabecinha arteira, ideias que se transformam em teses. Teses de liquidificador, como ela mesmo as chama. Umas claras, outras escuras, outras incompletas; algumas complexas, simples demais, mordaz demais. Varia conforme seu humor, que varia conforme o clima. Tudo seu estava ligado a alguma coisa, mesmo que ela não saiba exatamente a que.
Um pouco confusa, mas qualquer um é; a confusão faz parte da natureza humana. Ela mesma concluiu isso com uma de suas teses. Mas isso já é outra coisa.
De vez em quando tem acessos de sentimentalismos baratos; tudo muito saudável, mas perigoso. Não ousa a criar hipóteses pra essas questões. Sempre termina com dores de cabeça e sem ideia alguma! Só sabe que tudo é muito imprevísivel e que nada, por mais que pareça, é igual.

Não é sempre que divulga o que pensa. É perigoso expôr certas coisas à pessoas que não conseguem ampliar seus olhos pra tentar imaginar o que tem além da linha do mar. Mas mesmo assim, arrisca. Tem esperança de que algum dia elas entenderão o que ela quer dizer.
Já foi exibida, louca, herege, infantil e outros adjetivos temperados com certa hostilidade. Não se irritou, apenas pensou o quão azeda não têm sido essas vidas.
Desanuviou. E ensolarou um sorriso. Outra ideia! Correu pra anotá-la no papel antes que fosse embora na mesma rapidez que chegou.

Falava sozinha na rua, tinha longas conversas com ela mesma refletida no espelho. Frustrava-se com o fato da "outra" não retrucar, questionar o que ela dizia. Mas contentava-se. Pelo menos pensavam iguais.
Não tinha nenhuma credibilidade: mestrado e qualquer outro tipo de especialização passavam longe. Nada, apenas um cobertor de ideias.
Mas, às vezes, conversando com alguns conhecidos seus, que tinham diplomas e certificados, se perguntava se realmente a falta desses títulos a incomodava. Muitas vezes não sabiam responder uma simples questão ou se assutavam com uma simples constatação dela.
O que adianta todo conhecimento se continuam cegos? Não entendia, mas não se esquentava muito. Quebrar a cabeça não era nenhum tipo de passatempo pra ela. Acha desnecessário.
E assim vive a menina. Não é pretenciosa, nem acha que sabe tudo. Só quer continuar formulando suas teses, mesmo que não façam sentido pra ninguém.
E anota tudo em um caderninho. Quem sabe um dia eu consiga publicar aqui alguma de suas linhas de pensamento? Mas escondido; ela não gosta de se expôr muito.

Uma coisa eu sei: ela conhece a arte de extrair do silêncio uma porção de coisas! disso eu posso garantir com toda certeza!

quarta-feira, 15 de julho de 2009

Colo




Com um falar baixinho, vascilante e tímido, ele deixa escapar pra ela uma confissão abafada em forma de pedido:

- Mesmo que a lucidez e a razão dos meus dias obstruam as sensações incertas dos meus sentidos, quero que sejas suficientemente insana pra roubar de mim tal sensatez, tal segurança.
É preciso que eu crie imagens suas que talvez outros olhos nunca possam enxergar da mesma maneira; sentir cheiros que tragam afáveis lembranças; experimentar gostos tão particularmente seus, quanto os pensamentos que por aqui dentro passam enquanto os saboreio. É preciso que eu lhe apalpe, aperte, toque e acaricie para que meu tato grave as texturas de sua pele.
Pois seria eu indolente se tentasse racionalizar o coração enquanto ele está a morrer de amores.

Depois de ouví-lo, ela enlargueceu o sorriso, o olhou e o aconchegou em seu colo por mais uma vez.

domingo, 12 de julho de 2009

Mulherzinha, mas exigente.




Mulherzinha! Mulherzinha de vidinha. Tudo no diminutivo mesmo; precisava destacar a mediocridade que a envolvia.
Não tem amor próprio, nem escolha própria; não tem homem, nem cama. Tudo é de terceiros e quartos. Infinitos quartos. Pelo menos sobrara-lhe o corpo pra chamar de seu. Não, nem o corpo! Nada! É de quem a queira, quem pagasse.
O amor não havia; tesão quem sabe. A escolha é dada a quem paga mais. As camas variam de motel em motel: alta, grande, arrumada...E os homens? Delas, das outras. Mas ela quem desfruta, usa os corpos. Corpos grandes, pequenos, viris, másculos, gordos, magros, musculosos; uns tinham mãos frenéticas, outros língua audaz. Tinha também aqueles que com os olhos a despiam, invadiam e degustavam. Mas nenhum prazer era seu. São deles, e somente deles.
Mas do que pode reclamar? É uma puta. Daquelas que sabem exercer o ofício com todo o profissionalismo e frieza possível. É daquelas que você acha fácil nas esquinas, nos bares e bordéis. Mas só os melhores. É exigente!
De vez em quando, se doa de graça a qualquer um que aceite a caridade. É mortal, também precisa se liberar, fantasiar, ter prazer. Taí, de vez em quando tinha prazer próprio.

Acha tudo fulgaz. Tudo! Os sons, os olhares, as pessoas, as palavras. Principalmente estas: as palavras! Seus efeitos, para ela, têm pouca duração e quase nenhum impacto. Com a vida que escolheu, não pode se encantar com o que lhe é lançado em sussurro aos ouvidos. Mas secretamente, quando encontra-se só, cria um homem para ela que lhe diz aquelas mesmas coisas. Mas agora pode-se permitir ao encanto, ao êxtase, quiçá ao gozo.
Mas não pode lamentar da vida que tem. Ao menos sobrevive, paga as contas.
É claro que amou! E foi por justamente amar que se tornou meretriz. Na verdade, foi mais pelo seu covarde e, digamos, repulsivo medo de amar; medo de se permitir, se entregar aos delírios e as impulsividades de um amor juvenil.
Mas agora era tarde, e não lamentava mais. Na verdade detestava e odiava bancar "a coitadinha". É o que é: uma puta e pronto! Por escolha mesmo.
É daquelas que se pode ver que nasceu para o ofício. É daquelas que você acha fácil nas esquinas, nos bares e bordéis. Mas só os melhores.
É exigente. Pelo menos a exigência é por vez DELA!

quinta-feira, 9 de julho de 2009

Desabafos sem afagos...


Nem sono, fome, culpa e nem dor.

Nem ciúmes, premência, apego e pressões; expectativas, juras, arrecadações, recebimentos; sem vergonha — e sensível. Nem medo e nem controle, nenhum ódio e muito menos, juízo. Sentindo-me íntima do incerto, do instável, do insólito...
Buscando a essência de cada coisa nela mesma. Compreendendo as razões também daqueles que não conseguem me compreender. Podendo até ser julgada por minhas atitudes desprendidas e por meu comportamento fora de padrão...
Aspirando, espiando e suspirando. Devagarzinho. Olhando. De novo. Mais um pouquinho. Reviro o olho e viro pro lado. Nada que me prenda.

Nem e sem. Solta, voando, plainando, pousando. Ora menina arteira, ora mulher vivida. Alto e baixo; montanha russa. A sensação de que falta algo e ao mesmo tempo de estar completa. Não me leia nesses dias turbulentos. Nem eu mesma arrisco-me a tentar. Não amor, não mordo. Mas também não afago, não sussurro, não abraço.
Só respondo. E quando respondo.
Não ligue, honey, estou bem. É só fase; TPM creio. Ou não. Mas vai passar, vai voltar e vai passar...e assim vai. Indo e vindo.

Por que tudo isso?
Porque tenho um coração e uma vontade de "nem sei" do tamanho do mundo. Exagero, talvez. Mas acontece que não caibo em mim. E isso futuca, incomoda, muda, fica igual. E conter isso tudo aqui dentro, seria burrice. Por isso expando, recolho-me e calo. Calo porque não sei o que dizer. Na verdade nunca sei. E ainda esse medo de perder, de deixar...

E não me abrace honey! Hoje eu não afago, não sussurro, não abraço. Só penso, só divago...Só afasto.

quarta-feira, 8 de julho de 2009

Um acaso, um elevador, um encontro




Só conseguiu sussurrar um "oi, tudo bom." quase que engasgado e logo depois sentiu suas bochechas quentes. Corou. "Droga, você parece uma idiota", recriminava-se. Enquanto ele deixava o elevador, ela pensava em um milhão de coisas pra chamar a atenção, puxar papo. Não fez; ficou imóvel assistindo ele cumprimentar o porteiro e as portas do elevador se fecharem.
Não sabia nada sobre ele, somente que morava ali no prédio; começou a pensar por que estava se sentindo assim, tão besta, tão leve e pesada ao mesmo tempo. Queria saber por que essa ansiedade em esbarrar nele de novo. Juntou as peças e a sua expressão ficou idêntica a de quem cai numa armadilha; e meio que se diagnosticando gritou: "Puta merda,não acredito. Tô apaixonada?".
Entrou em casa, jogou as chaves sobre a mesa e foi logo pro banho. Depois, com uma taça de vinho tentou relaxar, ignorar aquele estranho que insistia em aparecer de intruso nos pensamentos dela. "E se eu virar clichê?", se perguntou enquanto preparava qualquer coisa pra comer. Não, não podia estar apaixonada. Não tinha tempo. Suas horas eram voltadas ao trabalho e só. Mas infeliz ou felizmente, não sei ao certo, nem tudo pode ser programado.
No dia seguinte, depois de um dia de cão no trabalho, cansada e estressada, passou na portaria pra pegar sua correspondência e foi em direção ao elevador. Quando as portas já iam se fechando ouviu alguém gritar "Segura pra mim". Com a cabeça na lua e sem prestar atenção, segurou o elevador e foi aí que sentiu as pernas tremerem. "É ele" gritou tão alto por dentro que pensou que ele tinha escutado. Olhou discretamente pro estranho e ficou admirando como era bonito. Tinha uma cara de homem, mas a aura de menino. Tinha traços um pouco fragéis e ao mesmo tempo marcantes; sua expressão era tranquila.
Terceiro, quarto...oitavo andar e nada. "Em que andar ele mora?" ficou se perguntando. Décimo andar; era o dela. Antes de pensar soltou um "tchau" meio que catado. Mas foi surpreendida.

Ele também ficou ali no décimo andar. E pra surpresa maior lhe respondeu "Tchau por que vizinha, se moro ao seu lado?" e sorriu. Como assim? desde quando? Como nunca percebeu? Sorriu de volta pra disfarçar. "Vai, chama ele pra tomar um vinho...fala alguma coisa...".
Mas foi ele quem lhe falou:
- Aceita jantar comigo? Olha sou eu quem vou cozinhar e cá pra nós, sou um bom cozinheiro; e deu risada.
Entrando na brincadeira ela perguntou:
- Vai convidar uma estranha pra jantar com você? Como sabe se sua vizinha não é um Serial Killer?
Ele a olhou de um jeito tão meigo quanto soou suas palavras:
- Acontece que de vez em quando eu acerto, quando sigo minha intuição.




[Ai,ai...seria tão bom se tudo acontecesse assim, certinho. Ou não. Texto-presenteimprovisado pra você, Olhos de jabuticaba. Leia-se nas minhas linhas]

domingo, 5 de julho de 2009

Gaiola

Você nasceu para voar, mas desperdiça toda essa doçura da vida numa gaiola...
Eu também.
Que horror!




Quantas portas tem a tua gaiola?