Foto "furtada" do acervo dele, rs.Existem escritos que deveriam ser enterrados para que só futuramente fossem lidos. Não entendam como egoísmo ou mero capricho de quem os escreveu. Apenas pensem na seguinte comparação: algumas frutas só podem ser consumidas após maduras, não é mesmo? Quando estão verdes, correm o risco de serem rejeitadas sem ao menos mostrarem seu verdadeiro sabor. A mesma coisa acontecem com as palavras. Vez ou outra, não estão prontas para logo serem lidas. É preciso que amadureçam; que seus leitores amadureçam. Mas vamos a ele: ao Menino Passarinho.
A idade me foge à memória nesse exato instante, mas arrisco-me a lhe dar os anos exatos de um garoto-homem. Isso mesmo, garoto-homem. Apesar da idade lhe fazer homem, ainda tem a alma de menino, com um ar despreocupado. Não sei se é mesmo assim tão tranquilo. O que sei é que ele contagia quem está a sua volta; é como se tudo tivesse uma solução, ainda que pareça incoerente.
É tímido e não precisa nenhuma análise psicológica para notar. Os poucos diálogos que dele saem, denunciam essa timidez. Ou seria cautela? É pode ser também; agora pensando por esse ângulo...
Tem olhos bastante curiosos e observadores: olha tudo atentamente procurando ver além do além. Acho que é pra bolar suas teses (também tem teses sobre uma porção de coisas) ou quem sabe pra compor suas canções.
Sim, ele canta. Canta mais do que fala. Canta e toca mais do que fala. Acho que é assim que espanta seus males; por isso o chamo de Menino Passarinho.
Mas é um "pássaro" diferente: não sabe assobiar e nem voa alto. Por ele seria um papacapim frustrado. Para mim, esse ainda não é o pássaro dele. Não sabe assobiar, mas aproveita que sabe soprar e toca gaita. Não voa alto, mas tem ousadia suficiente para se arriscar em voos rasteiros. Mudou de ideia quando lhe disse isso; com humor, chegou à conclusão de que acabara de tornar-se uma galinha. Não seguramos o riso.
Quer saber? Ele não é galinha, nem papacapim coisíssima nennhuma! É só me dar um bocadinho de tempo e descubro que pássaro o danado é. Ah! se descubro!
Tem uma curiosidade inquieta. Se não existe essa definição, passa agora a existir. Tudo para ele vira conhecimento, fórmulas, cálculos, deduções, conclusões...Muda constantemente, a qualquer hora. Basta descobrir que o que ele achava certo antes, agora não tem sentido algum e pronto: mudou! Ser mutável deve ser uma constância da natureza dele. Tenho cá com meus botões que é um nômade, evitando fixar em si mesmo para não terminar como alguém previsível demais. Não sei e nem sei se ele sabe.
Outra coisa que me chama a atenção no Menino Passarinho é a sua descrição. Não tem movimentos eufóricos ou bruscos; não grita, nem gosta de expôr sua vida como se essa fosse um tipo de boletim diário sobre o tempo. Tenho certeza que, por essa qualidade, é fiel aos segredos das confissões que lhe são depositadas com crédito. Parece-me um ideal confidente.
Não sei se consigo falar do sorriso. Vi poucos; mas do pouco que vi, posso apostar que se assemelha ao de uma criança: ri porque achou graça, não por pura conveniência ou agrado. Diria que... Rá! já sei que pássaro ele é! É um
CANÁRIO DA TERRA! Isso! é um autêntico canário da terra! Como não percebi antes?! Céus, não é que descobri mesmo que pássaro o danado é?!
O conheci cantando. Cantando e tocando. Numa tarde de domingo, se me recordo bem. Não o conheço de "longos carnavais", mas senti vontade de escrever sobre o menino que se parece com um passarinho.
Sabe o que falei no início, sobre o escritos que precisam ser enterrados para serem lidos posteriormente para que suas frutas, digo, palavras possam amadurecer? Pois bem, esse Souvenir para o Menino Passarinho é um desses escritos. Enterrarei e quando eu sentir que está maduro, o mostrarei. Ou não!
Vai saber se eu mesma sei...