terça-feira, 29 de setembro de 2009

Voltando a órbita



Acordei com o telefone berrando. "Que horas são?", me perguntei enquanto tentava levantar do sofá. Ainda estava enjoado. Só tive certeza que estava em casa depois que vi a porta do banheiro fora do lugar. Venho a semanas prometendo que vou coloca-la no lugar, mas arranjo qualquer desculpa fajuta para adiar o conserto.
Não atendi o telefone. Preferi tomar um banho para despertar. Quem quer que fosse do outro lado da linha, iria ter que esperar. Não lembro de nada do aconteceu ontem, mas sei que preciso de um banho já.

Enquanto estava no chuveiro, tentava lembrar de alguma coisa que fiz na noite passada e nada. Então decidi lembrar da noite anterior à anterior...Não consigo lembrar de nada! E começo a ficar preocupado.
Depois da ducha, fui até a cozinha, tentar arranjar algo pra comer em meio aquele caos de louças sujas na pia, comida estragando fora da geladeira, restos de pizza, lixo acumulado. "Que dia é hoje?", tentei fazer esforço pra lembrar, mas fiquei em dúvida entre segunda e terça; é nessa hora que um calendário se faz fundamental na vida de uma pessoa. Não importa: concluí, em meio aquele depósito de lixo que carinhosamente chamo de cozinha, que precisava de uma diarista urgente! Mas depois vejo isso.

Novamente o telefone berrou. Dessa vez resolvi atender ao chamado insistente da criatura do outro lado.

- Alô, Bruno?! É a Naty.
- Oi, Naty...
- Você está vivo! Nossa o aconteceu com você?
- Que conversa é essa Naty? Claro que estou vivo, estou conversando com você. E estou bem, não é uma ressacazinha que vai me derrubar.
- Ressaca? Você só pode estar de gozação Bruno. Já deu uma olhada na sua caixa postal? Você desapareceu por 11 dias!
- Haha, Naty, você sempre exagerando...
- Exagerando? Bruno, você realemente não está bem. Faz o seguinte estou indo até aí.

E desligou antes que eu dissesse alguma coisa. 11 dias? Que exagero dela. Fui olhar a caixa postal só para ter certeza que ela estava enganada.
"Você tem 55 mensagens.". Fiquei imóvel diante do telefone e meu tom de deboche foi dando espaço a uma testa franzida.
"Mensagem nº 1, 18 de setembro...". Nem esperei para ouvir o resto. Acendi logo um cigarro, e esperei que a explicação viesse com a Naty.

Assim que abri a porta, ela me deu um abraço apertado. Minha fiel amiga, meu braço direito explicou o que tinha acontecido. E aos poucos fui recuperando a memória. Lembro que andava desgostoso com minhas últimas produções. Me sentia enfadado, repetitivo e limitado. Resolvi que ia me dar uns dias de folga; queria curtir um pouco mais. Sem os rostos conhecidos. Eu estava com aquele papo de "desbravar novos horizontes.". E as lembranças que me vieram enquanto Naty falava comigo pareciam com "os últimos dias da minha vida". Vivi um bacanal! Por isso essa ressaca infeliz e inacabável.
Resolvi não falar nada para ela. Estava adorando ser bajulado, procurado por todos. Disse que apenas fiquei fora do ar. Ela riu e disse que a galera ia se encontrar no mesmo barzinho de sempre.
Enquanto pegava as chaves e apagava a luz, senti que estava renovado; as ideias jácomeçavam a borbulhar aqui dentro. Não importa se não lembro de tudo o que aconteceu e como aconteceu.
O fato é que: EU ESTAVA DE VOLTA À ÓRBITA!

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Nebulosa



Por onde eu passava, ouvia os burburinhos. Não precisam me lembrar o tempo todo que aquela nuvem está aqui. E já começo a me preocupar: antes era só um pontinho imperceptível; agora é uma nebulosa negra e densa.

Não me recordo quando exatamente ela começou a se instalar. É que pra ser sincero, nunca consegui me apegar a essa coisa de contar tempo, gravar datas... Para mim cada dia deve transcorrer livre, assim como as ideias que vêm junto com ele. Para que atribuir um fardo a uma mera data? Para que aprisionar um dia à uma lembrança? É pesado demais pra um intervalo de 24h; céus!
Mas voltando à nuvem, confesso que já estou perdendo as rédias da minha paciência. Ela fica aqui, logo em cima da minha cabeça; crescendo, crescendo, crescendo. Não chove, não molha, não se desfaz, não muda de forma. Sempre negra, densa e fechada.

O que mais me incomoda é que todos fazem questão de vir me alertar, mostrar, lembrar. Droga! Já sei, já sei!, mas o que posso fazer? Digam-me, o que faço? Não sei como ela veio parar aqui, não sei o por quê e nem como removê-la daqui de cima.
Ando sempre com um guardachuva a tiracolo, sempre desconfiado, atento; vai que ela resolve desaguar? Mas sempre acabo me distraindo com qualquer outra coisa. Acho que ela fica esperando uma distração maior, que realemnte me faça esquecer que ela está aqui, logo acima da minha cabeça, para então atacar.

Certo dia, um amigo poeta, arriscando-se na carreira de médico, chegou ao seguinte diagnóstico: "Isso é mal de ideia acumulada. Assim que conseguir despejá-las, esse algodão negro aí se dissolve. Vá por mim.". Outros disseram que eram as preocupações da idade madura. Não sei em que diagnóstico devo acreditar, sinceramente.
Mas enquanto ela não chove, nem molha, nem se desfaz e nem muda de forma, terei que aguentar os burburinhos, as piadinhas, os olhares e a desconfiança de que a qualquer momento, num menor vacilo meu, ela despeja tudo que acumulou.

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Talvez seja tolo...

Me falou isso sem que ao menos eu precisasse abrir a boca. Acho que a inquietação e a confusão estavam estampados e em letras garrrafais, bem na minha testa. Ele estava concentrado em sua pescaria; mas nem assim errou na medida de suas palavras:

- O que tens visto nesses últimos dias, meu caro?
Algo insano o suficiente para te convencer que você está louco, ou agora que você enxerga que tudo pode "plantar bananeira"?

- Não é só que...

- Ah! vamos! Uma pitada de loucura evita os excessos de tolices.


Ao ouvir isso, fiquei pensando se sou um tolo por ainda não saber lidar com as surpresas da vida, ou se sou tolo por aceitar um conselho de uma pessoa que além de ter sua sanidade à prova, estava pescando.
Um dia descubro...

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Coisas do Mundo Mudo



Fiquei sabendo da existência dele há pouco tempo, através de um grande amigo meu, em uma de nossas conversas filosóficas de bêbados de bar.
Contou-me sobre um Mundo mudo. Confesso que no início fui um pouco cético: nossa credibilidade já havia se rendido para um grande teor alcoólico no sangue e suas leotrias infantis. Como confiar num sujeito que delira diante dos efeitos das doses do uísque? Mas quando ele começou a explicar, gesticulando e quase desenhando numa lousa flutuante e fictícia, fui trocando a incredulidade por uma convicção de que meu grande companheiro estava em seu juízo perfeito.

Começou explicando-me que nesse Mundo, não era preciso dizer nada para que as pessoas pudessem se comunicar.

Obs.: Isso eu já tinha percebido pelo nome: “mundo MUDO”; questão de lógica. Resolvi não interrompê-lo com essa observação indelicada. Ele estava em êxtase por minha curiosidade e queria me explicar os detalhes para que pudesse entendê-lo. Bom amigo.

Segundo ele, existia uma lei que proibia que as palavras fossem proferidas. Achei um absurdo: ninguém podia falar? Que coisa chata! Olavo riu e explicou que a maioria das pessoas reage dessa mesma maneira, e continuou. Disse que essa lei foi criada após os mais sábios da cidade chegarem a conclusão que na maioria das vezes, palavras ditas em momento errado, à pessoa errada, na medida errada trazia conseqüências enormes e muitas vezes, irreparáveis. Então, acharam melhor evitar situações assim.
Tudo agora deveria ser através dos gestos, dos olhares, dos sons, cores, gostos, cheiros... Explicou-me que no começo foi difícil, pois nem sempre se tem paciência para ler as intenções, os desejos, os sentimentos do outro. Mas com o tempo, tudo ficou mais fácil. A harmonia, cumplicidade, intimidade eram invejáveis.

Fiquei encantado. Perguntei ao meu amigo onde fica esse maravilhoso mundo. Ele explicou que fica mais próximo do que pensamos, mas exige um pouco de cada um. Me disse que esse mundo fica mais próximo quando corações estão acorrentados um ao outro. E parou de falar do Mundo Mudo.

Acontece que ultimamente, nossos corações andam em carne viva, tentando se salvar em doses e doses e doses de leotrias alcoólicas.

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Cousa de língua...ah se é!

NADA. ADA. Cada. FADA.
Palavra . TRAVA. CRAVA. LAVRA.
TRÁS. Faz. RAPAZ. FULGAZ.
IDO. SIDO. TIDO. Sentido.
VINDA. DINDA. Ainda. LINDA.
VÊ. Que. DÊ.
LESSE. DESSE. NESSE. Esse.
VEJA. Seja. EJA. BEIJA.
Deslocado, FALADO. MOSTRADO. INVEJADO.
FUNIL. VIRIL. Infantil, BRASIL.
VOU. DOU. SOU. Ou.
Não. MÃO. PÃO. CÃO.
CAÇA. RAÇA. Faça. TRAÇA.
VIVIDO. Sentido. ESQUECIDO. FALIDO.
NENHUM. UM. Algum. ATUM.



Por favor, não estranhe! Peraltices da língua, que insiste em ir atrás da métrica, do ilógico e da rima. É assim mesmo!
Acredito que assim como a minha, sua cabeça já fez nó. Estou até tonta de tanta pompa. E ainda caí nessa cousa zombada de língua travessa e afiada.
Tem dó!

terça-feira, 1 de setembro de 2009

Um samba pra azular

E no enredo do meu samba
eu sou a porta bandeira, o mestre sala e o bamba.
Do meu sorriso faço estandarte.
E sambando e cambaleando,
vou distraindo a verdade que insiste em me acordar do faz de conta.

Nem sempre se pode rimar e ignorar...
Mas vira e mexe, a gente pode cantarolar pra azular o dia.
A vida é muito curta para ser pouca.





(Desculpem a ausência. Os últimos dia foram caprichados; ô se foram)