quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Nebulosa



Por onde eu passava, ouvia os burburinhos. Não precisam me lembrar o tempo todo que aquela nuvem está aqui. E já começo a me preocupar: antes era só um pontinho imperceptível; agora é uma nebulosa negra e densa.

Não me recordo quando exatamente ela começou a se instalar. É que pra ser sincero, nunca consegui me apegar a essa coisa de contar tempo, gravar datas... Para mim cada dia deve transcorrer livre, assim como as ideias que vêm junto com ele. Para que atribuir um fardo a uma mera data? Para que aprisionar um dia à uma lembrança? É pesado demais pra um intervalo de 24h; céus!
Mas voltando à nuvem, confesso que já estou perdendo as rédias da minha paciência. Ela fica aqui, logo em cima da minha cabeça; crescendo, crescendo, crescendo. Não chove, não molha, não se desfaz, não muda de forma. Sempre negra, densa e fechada.

O que mais me incomoda é que todos fazem questão de vir me alertar, mostrar, lembrar. Droga! Já sei, já sei!, mas o que posso fazer? Digam-me, o que faço? Não sei como ela veio parar aqui, não sei o por quê e nem como removê-la daqui de cima.
Ando sempre com um guardachuva a tiracolo, sempre desconfiado, atento; vai que ela resolve desaguar? Mas sempre acabo me distraindo com qualquer outra coisa. Acho que ela fica esperando uma distração maior, que realemnte me faça esquecer que ela está aqui, logo acima da minha cabeça, para então atacar.

Certo dia, um amigo poeta, arriscando-se na carreira de médico, chegou ao seguinte diagnóstico: "Isso é mal de ideia acumulada. Assim que conseguir despejá-las, esse algodão negro aí se dissolve. Vá por mim.". Outros disseram que eram as preocupações da idade madura. Não sei em que diagnóstico devo acreditar, sinceramente.
Mas enquanto ela não chove, nem molha, nem se desfaz e nem muda de forma, terei que aguentar os burburinhos, as piadinhas, os olhares e a desconfiança de que a qualquer momento, num menor vacilo meu, ela despeja tudo que acumulou.

8 Por aqui, um pouco mais de "etc.":

Airlon disse...

é, pois é... palavras à parte, eu gostei mesmo foi da nova imagem de exibição aí em cima! Muy bien garota! Bjo, saudações musicais...

APS

Luna Sanchez disse...

Eu gostei da definição do amigo poeta / médico : ideia acumulada! De problema a nuvem se transformou em dádiva. E se é densa e negra, é porque as idéias são boas, ué. \o/

* Cara nova do blog da Nana...muito legal, aprovei, flor.

Beijos, dois, de sexta.

ℓυηα

Unknown disse...

Todos temos buracos. Negros ou brancos. Todos somos iguais e ao mesmo tempo diferentes.

Bjos.

Denise disse...

Não seria a nuvem apenas um aviso.....de q por cima dela ha sempre luz?

Ou talvez a luz esteja em ti.
pense...pensemos

meu bem querer recheado de carinho

Nara disse...

Ruim é não conseguir esconder a nuvem, né? É a minha nuvem, como você disse, já sei que ela existe, então, por favor, me deixe em paz com ela. Talvez seja uma boa companhia...

Luna Sanchez disse...

"Ô, Nana
cadê você..."

Rs

ℓυηα

Dois cigarros e um café. disse...

Como sempre, ótimos textos!

amore, esse médico tem razão!
Beijundas ^^

R. disse...

Entrei e fui surpreendido por uma Naila a la Warhol. Gostei!

Quanto ao post eu tenho uma solução básica para tais problemas: férias. Eu preciso também :)

Bjs!