Sentou à beira da cama. Levou a cabeça até os joelhos e passou as mãos nos cabelos molhados.
Os lençóis, num emaranhado que só, expeliam o cheiro misto de suor e baunilha.
Ainda tonta e com repentinas ânsias de vômito, notou que havia um corpo em seu colchão.
Mas isso não era nenhuma anormalidade. Afinal, muitos corpos frequentavam seu colchão.
Um corpo, um cheiro, uma boca diferente a cada dia. Moreno nas segundas, louro às terças; os ateus na quarta, os calvos nas quintas. Os mais "maduros", segundo ela, mereciam-na nas sextas. E nos sábados e domingos se permitia, e a seu colchão também, a acolher qualquer alma que necessitasse de pele, desejo e carne!
Não pode evitar o desejo de expelir tudo que havia em seu estômago e correu para o banheiro, na esperança de que alcançasse. Argh! Um gosto amargo lhe veio a boca. Concluiu que tinha tomado champanhe. Já tinha sentido aquele odioso sabor em um dia de ressaca após uma noitada de farras regada por champanhe em taças inebriantes...Ai! Aquela dor de cabeça também já sentira.
Quase que se arrastando, procurou na gaveta onde guardava suas miudezas, qualquer remédio ou droga que aliviasse àquela sensação penosa que se instalara em sua cabeça. Achou um comprimido qualquer, e antes que pudesse ler de qual dos males ele tratava, pôs para dentro sem hesitar.
Sentou na poltrona em frente a sua cama e olhou novamente o corpo estendido. Engraçado, apesar de todo o barulho, a figura corpolenta daquele homem não havia sequer feito um movimento. Decidiu chegar mais perto.
O reconhecera! De repente sua náusea voltou, sentiu-se tonta, confusa; suas mãos e face ficaram gélidas e novamente o gosto amargo do champanhe da noite anterior veio-lhe à boca. "Está morto!". Aquele homem que estava em seu colchão estava morto!
Não, ela não aparentou nenhuma surpresa ou desespero. Na verdade sua exclamação foi de conquista. O mal estar era por causa da incômoda ressaca. Conseguira cumprir seu plano, apesar de não ter memória de como o executou. Demonstrando uma implacável frieza após ter entendido o que acontecera ali, resolveu tomar uma ducha. Enquanto se vestia, pensava em como ia se livrar daquele corpo.
Stevens era um homem corpulento, elegante, bonito e ingenuamente apaixonado. Apesar de passar uma imagem contrária, era tolo nas questões do coração (e quem não é?!). Enrabichava-se facilmente, iludia-se e encantava-se com aqueles seres de saia. Os amigos tentavam ajudar, aconselhavam-no, mas não se há muito o que fazer por quem tem a paixão como bússola.
A última, literalmente a última, avassaladora paixão de sua vida tinha sido por Ela. Uma mulher da vida; uma puta de um dos vários bordéis da quase extinta Ladeira do Imperador. Não era qualquer rameira; ela era especial. Tinha vida nos olhos. Fazia o ofício de cada dia por prazer. Cheirava a desejo, a fogo, a saliva quente, a luxúria, a sexo. Suas unhas sempre vermelhas o fascinavam. A boca carnuda hipnotizava-o. Era perfeita. Vinha frequentando o seu colchão há meses. Ia por amor, paixão ou qualquer nome que explicasse aquela súbita vontade de tê-la em seus braços, encaixada prazerosamente em sua virilidade. Ah! Gozava intensa e freneticamente com ela. Sim, ele a amava!
Caramba!
Há 2 semanas
0 Por aqui, um pouco mais de "etc.":
Postar um comentário